Streams: Quando e por que usar para processamento eficiente de dados

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Introdução
Vivemos em uma era de excesso de informação. Logs que crescem a cada segundo, bancos de dados de terabytes, vídeos transmitidos em tempo real. Nesse cenário, surge a pergunta:
Como processar volumes massivos de dados sem travar a aplicação ou estourar a memória?
A resposta está em uma técnica antiga, mas cada vez mais essencial: Streams.
- No ecossistema .NET e C#, streams aparecem em várias formas, como
Stream
,StreamReader
,IAsyncEnumerable<T>
,FileStream
. - Em outras linguagens, streams também aparecem, por exemplo em Java (
InputStream
/OutputStream
) e Node.js (ReadableStream
/WritableStream
). - Fluxos de dados contínuos em HTTP, gRPC, filas e storage em nuvem também possuem suas APIs de stream.
Paradigma Tradicional vs Streaming
A diferença entre processar tudo de uma vez e processar em partes pode ser representada dessa forma:
Na primeira abordagem, só obtemos resultados após carregar tudo. Na segunda, já começamos a produzir valor enquanto processamos.
Arquitetura: Visão conceitual
Um sistema que processa dados como fluxo pode ser entendido como um pipeline:
Essa abordagem traz ganhos claros:
- Menor uso de memória.
- Tempo de resposta mais rápido.
- Capacidade de lidar com dados variáveis ou infinitos.
O conceito de buffer
Um buffer é uma área de memória temporária usada para armazenar partes de dados enquanto eles são processados. Em streams, usamos buffers para ler blocos de dados em vez de carregar tudo de uma vez. Por exemplo, ao ler um arquivo de 10GB, podemos usar um buffer de 4MB:
- O buffer reduz o consumo de memória.
- Permite começar a processar dados antes de ter lido o arquivo inteiro.
- Pode ser ajustado para equilibrar latência e uso de memória.
Exemplo Teórico: Lendo um arquivo de 10GB em .NET, C#
Abordagem sem streaming
var data = File.ReadAllBytes("dados-10gb.bin");
Process(data);
- Requer 10GB de memória disponível.
- Se não houver, a aplicação pode cair com
OutOfMemoryException
.
Abordagem com streaming e buffer
using var stream = new FileStream("dados-10gb.bin", FileMode.Open);
var buffer = new byte[4 * 1024 * 1024]; // buffer de 4MB
int read;
while ((read = stream.Read(buffer, 0, buffer.Length)) > 0)
{
Process(buffer.AsSpan(0, read));
}
- Usa apenas 4MB de memória por vez.
- Escala para arquivos muito maiores sem esforço.
Visualizando a diferença
Streaming em HTTP, gRPC e outros dados contínuos
Streams não se limitam a arquivos. Eles podem ser aplicados a:
- HTTP uploads e downloads.
- gRPC streaming de dados entre microsserviços.
- Mensageria e filas (Kafka, RabbitMQ, Azure Event Hub).
- Blobs em Azure Storage ou S3.
- Processamento de logs contínuos e eventos em tempo real.
A ideia central é processar enquanto os dados chegam, independente da fonte, reduzindo o uso de memória e aumentando a escalabilidade.
Impactos na Performance e Garbage Collection
Processar grandes volumes de dados em memória gera várias alocações de objetos, o que aciona o Garbage Collector (GC) com mais frequência, aumentando a latência e diminuindo a performance geral.
- Sem streaming, cada arquivo ou coleção inteira precisa ser alocada, o que pressiona a heap e aumenta pausas do GC.
- Com streaming, alocamos apenas buffers pequenos, liberando memória continuamente.
- O processamento incremental minimiza picos de uso de memória e reduz a fragmentação da heap.
Onde ainda vejo memória sendo estourada
Mesmo times maduros ainda cometem o erro de processar arquivos massivos direto na memória. Exemplos comuns:
- Arquivos CSV de 10–20GB sendo carregados com
File.ReadAllText
. - ETLs corporativos que baixam dados do data lake e tentam abrir tudo de uma vez.
- Integrações batch usando
List<T>
para acumular milhões de registros.
Motivos:
- Pressão de prazo: soluções rápidas “funcionam na máquina”.
- Desconhecimento de streams.
- Testes com datasets pequenos, que não refletem produção.
- Falsa sensação de simplicidade: ler tudo parece mais direto.
Sintomas típicos:
- Servidores com dezenas de gigabytes de RAM esgotadas.
- Jobs que demoram horas só para carregar dados.
- Sistemas instáveis em produção mas ok no dev.
O uso de streaming, nesses casos, não é só boa prática - é literalmente a diferença entre rodar ou não rodar.
Trade-offs: Stream vs Não Stream
Sem streaming:
- Simplicidade de implementação.
- Fácil acesso randômico aos dados.
- Garantia de ordenação completa.
- Risco de alto consumo de memória.
- Escalabilidade limitada.
- Latência maior para começar a processar grandes arquivos.
Com streaming:
- Complexidade maior de implementação.
- Processamento incremental, menor latência.
- Uso controlado de memória, maior escalabilidade.
- Necessidade de lógica adaptada a chunks de dados.
- Não garante ordenação de dados se processados em paralelo ou em chunks.
- Possível necessidade de buffering ou sorting adicional se a ordenação for crítica.
- Dependência da disponibilidade contínua do fluxo de dados.
- Requer tratamento cuidadoso de erros durante o fluxo contínuo.
- Dificuldade de reprocessamento de dados já consumidos sem armazenar intermediários.
Quando usar Streams
Situação | Use Streams | Evite Streams / Mude a Estratégia |
---|---|---|
Tamanho dos dados | Grandes ou pouco previsíveis (> 1 MB) | Pequenos, previsíveis (< 1KB) |
Fluxo de dados | Contínuo ou indeterminado | Dados finitos e facilmente carregáveis |
Latência / Processamento | Possível processar antes do fim da leitura | Quando múltiplas iterações são necessárias |
Consumo de memória | Precisa ser previsível | Quando o custo incremental supera o benefício |
Ordenação | Não crítica ou gerenciável com buffers | Quando a ordenação estrita é essencial |
Aplicações no mundo real
- Leitura de arquivos de log gigantes (auditorias, ETLs).
- Streaming de mídia (vídeo, áudio).
- Integrações entre microsserviços usando gRPC streaming.
- Mensageria e filas: Kafka, RabbitMQ, Azure Event Hub.
- Leitura de blobs em Azure Storage ou Amazon S3.
- Processamento de eventos em tempo real.
Conclusão
Streams não são apenas um detalhe de implementação. Elas são uma filosofia arquitetural: processar enquanto se recebe, produzir valor parcial antes do fim e projetar sistemas que crescem junto com os dados.
Na prática, ainda vejo equipes maduras caírem no erro de carregar tudo em memória. Times que adotam streaming constroem sistemas mais resilientes, previsíveis e prontos para lidar com o crescimento dos dados.
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